segunda-feira, 22 de setembro de 2014


"Lavava o rosto devagar, penteava-se devagar, já de camisola para dormir. Adiava, adiava. Escovou mais uma vez os dentes. Sua testa estava franzida, sua alma trêmula. ela sabia que ai tentar rezar e assustava-se. Como se o que fosse pedir a si mesma e ao Deus precisasse de muito cuidado: porque o que pedisse, nisso seria atendida. Foi à geladeira, bebeu um copo de água: agia como se tivesse sido hiponotizada por Ulisses. E ainda um ínfimo movimento de revolta contra o hiponotismo a que parecia ter sido sujeita fazia-a adiar o que viesse.
Pedir? Como é que se pede? E o que se pede?
Pede-se vida?
Pede-se vida.
Mas já não está tendo vida?
Existe uma mais real.
O que é real?"
Clarice Lispector
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